Passaram-se 35 anos apenas desde a Revolução de Abril, uma geração inteira foi já criada sobre a alçada da liberdade e da democracia, no entanto o ambiente vivido nos tempos anteriores ao dia 25 de Abril de 1974 permanece bem vincado principalmente na memória de quem o sentiu na pele, o que obviamente não é o meu caso particular pois nessa altura até porque os meus pais não se conheciam ainda sequer. Desde as proibições mais banais como o consumo de certos produtos estrangeiros, até à censura mais psicologicamente violenta e chocante, como a ausência da liberdade de escrita, proibiam o livre pensamento do povo e assim punham um entrave na mente humano provocando o colapso e um estado de súbditos das ideias incutidas pelo Estado, súbditos forçados, não conhecendo outra realidade.
Estou certo que o facto de alguns portugueses ignorarem todos estes factos, apesar de profundamente lamentável, não é uma surpresa de forma alguma até porque o principal mentor do Estado Novo foi eleito como o "Maior Português de Sempre" pelo povo português a cerca de 3 anos como bem se devem lembrar, o que por si só mostra como a memória de algumas pessoas se desvanece rapidamente com o tempo suavizando toda uma realidade tenebrosa, no entanto por estas pessoas nada pode ser feito senão reavivar-lhes a memória e por isso é necessária a preservação do dia 25 de Abril de 1974, para que mesmo após varias gerações os valores pelos quais os nossos antepassados lutaram, continuem impostos por si mesmos.
Bem podia continuar a escrever, que assunto não faltaria, mas deixo antes aqui uma música que faz também parte da revolta em si e do próprio dia da revolução, "Grândola Vila Morena", música interpretada pelo cantor, poeta e revolucionário que desde sempre impôs nas suas músicas um carácter de oposição ao estado novo incitando a uma libertação, José Afonso (Zeca Afonso), Na minha opinião esta música reúne em si, grande parte do espírito português durante a Revolução dos Cravos:
Grândola, Vila Morena - José Afonso
Grândola Vila Morena - José Afonso
Grândola, vila morena
Terra da fraternidade
O povo é quem mais ordena
Dentro de ti, ó cidade
Dentro de ti, ó cidade
O povo é quem mais ordena
Terra da fraternidade
Grândola, vila morena
Em cada esquina um amigo
Em cada rosto igualdade
Grândola, vila morena
Terra da fraternidade
Terra da fraternidade
Grândola, vila morena
Em cada rosto igualdade
O povo é quem mais ordena
À sombra duma azinheira
Que já não sabia a idade
Jurei ter por companheira
Grândola a tua vontade